domingo, 8 de janeiro de 2023

Passarada

A tarde segue e ao longe, se veem avezinhas desmioladas, do alto das arvores ao arrulhar na calçada;

Estão descontentes com o pleito que houve na floresta, brincam de amotinadas, piam no Alvorada;


Ah a passarada, organizadas num só cantar, desapontadas;

Ah a passarada, do bater de asas ao andar desengonçado pelas ruas, fingindo serem de rapina, de emboscada;

 

[Confusão]

Descontentes com o vento a soprar sob suas asas, fazem barulho;

Cansadas do voo livre, clamam por gaiolas com orgulho

 

Avezinhas descuidadas, voam perto chão, esperam ansiosas pelo som do elástico na ponta da forquilha;

Inocentes ou estúpidas, voam perto demais dos predadores, parecem querer a armadilha;

 

[Tensão]

Eles estão ali, aplaudindo, como quem gosta da brincadeira;

Estão ali e nas mãos, pedras e atiradeira;

 

É estranho ouvir uma outra ave pedir que lhe cortem as asas, que lhe tirem a liberdade;

É assustador ouvi-las, tanta inequidade;

É estranho ouvir uma outra ave piando assim;

É estranho contemplar o por do sol daqui do céu, e imaginar que o que lhe é caro tenha um fim.

 

                                                                Denis Eduardo

sábado, 29 de janeiro de 2022

Sobre você
Sobre eu e você
Ler, decifrar, despir, vê-la sorrir
 
Assim, deitada;
À meia luz, sem meia, sem calça, descalça;
Querendo, balbuciando meu nome, deixando a mim sem graça;
 
Mais luz!
No chão, enquanto se esvai o dia, debruçada;
Enquanto a lua ilumina seu corpo na sacada;
Seu cheiro, sua textura, a ausência da mente no corpo, sua voz engasgada;
 
[Confusão]
Quero continuar, os dedos tremem;
As rimas somem, o tempo parou por um instante;
Em meio a tantos toques você me vem à mente, um rosto sem semblante;
 
Dispa-se por mim;
Deixe que o algodão caia no chão;
Deixe que o relevo dos teus seios chame a minha mão;
 
Deite-se, assim de lado;
Finja um ar despreocupado;
Me olhe nos olhos [inspire];
 
[Confissão]
“Minhas pernas, já não respondem ao impulso”, ela diz;
Não sei negar à sua presença, o que foi que eu fiz?
Estou entregue, ao seu alcance;
Estou inerte, estou em transe;

[respire]

A lifetime

Two languages, one tongue;
Walk alone, be more than you were made to be;
Fly free;
 
Use it;
Dare yourself, go further;
Dare the face in the mirror, do not look for cover;
 
Hate them, hate them all;
Love them too,
One existence cannot be expended as a fool;
                                                                                        Denis Eduardo

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Numb

Cloused eyes;
Lying down on the floor;
[Silence]
I can hear her;

Her lips;
Out side of the window;
Her finger tips;
Am'I naked?

Blindness;
Chained;
None blood in my vains;
Something touches my chest;

Motionless and deaf;
You sing silently of hard times;
My verses;
Dying without rhymes;

Where are you?
Somehow I am still here;
Don't you feel the darkness?
Don't you hear this silence?

May I go?

                                                                            Denis Eduardo

sábado, 18 de maio de 2019

Sujeito

Ele, um sujeito que não se esconde ou que mereça ser                                                                                           mostrado;
Não tem pai ou mãe, nem inteligente nem retardado; 
Apenas mais um com ar de coitado;

Sujeito reto. Não é simples muito menos composto, sem                                                                          dotes de predicado;

Não tem predileções, não possui sequer bela sombra para                                                                        que seja elogiado;

Um sujeito qualquer;

Oculto no mundo, sem verbo de ligação ou alguém que o                                                                     chame de namorado;

Sujeito indeterminado;

Um serzinho sem eira nem beira;
Um qualquer, que não serve sequer de adorno na prateleira;

Sujeito inexistente;

Desses que a gente despreza na vida;
Que me serviu apenas na rima de outra linha corrida.
            
                                                                         Denis Eduardo



O que não se pode ver

O ar que sopra à nossa volta;
O mesmo ar que se enfurece e bate à nossa porta;
Que molda as montanhas e acaricia as ondas;
No faz tremer brincando de assoviar nas sombras;

A fé que nos toca quando as mãos estão postas;
A mesma força que nos da as costas;

O que não se pode ver;
Tudo aquilo em que não se pode crer;
Um algo bobo;
Um algo a mais que nos guia ao engodo;

O que não se pôde ver;
Que fez então a chama parar de tremer;

Força [sussurros]

E no fim, o que se fez entender.

                                                                     Denis Eduardo

sábado, 19 de janeiro de 2019

Caos Criativo


O tempo passou e minhas mãos permaneceram inertes sem narrar as vidas que passaram pela minha;
O tempo se arrastou para longe levando consigo os versos que caberiam nessa linha;

Estive cético, desprezando as ideias que explodiam à minha frente;
Me mantive alheio à tempestade de vozes que sussurravam aos berros, falácias que não mentem;

Elas estão de volta, à minha volta;
E o todo flui; 

Sombras ou cores todas de uma só vez, não um mero lampejo;
É preciso escrever, descrever como as vejo; 

Fecho os olhos - mais uma vez juntos, o racional e o instintivo;
O grafite corre e percorre o papel em branco, é preciso ordenar todo esse caos criativo;

                                                                                    Denis Eduardo